março 06, 2016

O mágico.

Sempre fora conhecido assim: o mágico. Mas o nome dele era Manuel, e tinha 14 anos. 

Mágico a jogar futebol. Conseguia sempre levar a bola à baliza. Não interessava quantos jogadores tinha de ultrapassar, quantos centrais deixava para trás e a quantos trincos escapava. Quando a bola chegava aos pés dele, fazia magia. Às vezes nem ele sabia como. Tinha um dom, diziam. Chegaria longe, diziam. Manuel só queria continuar a jogar à bola, não importava o quão longe iria chegar.

O pai, sportinguista ferrenho, sonhava com a entrada do filho nas escolas do Sporting em Alcochete. Sonhava com o dia em que o filho seria o próximo Cristiano Ronaldo, ainda que Manuel fosse ponta de lança. Vibrava como ninguém ao ver a magia nos pés do filho. A mãe, por seu lado, uma benfiquista que já vibrara muito com os jogos do Benfica, sonhava com o dia em que o filho se tornaria a sensação no clube da Luz. 

Manuel sonhava em jogar à bola para o resto da vida. Era um ponta de lança sem as características de um. Marcava mais golos do que ninguém. Já tinha 4 taças de melhor marcador da Associação de Futebol de Santarém, e quem o via jogar não dizia que ele tinha 14 anos. Parecia um jogador profissional, tal era a concentração com que entrava sempre em campo. 

Um ponta-de-lança, habitualmente, é o jogador que recebe a função de marcar os golos. E isso o Manuel fazia. A única diferença é que ele ia buscar jogo (era assim que se dizia na gíria), ou seja, fugia ao estereótipo de jogador que não se movimenta muito. O seu jogador favorito era o Cardozo misturado com o Cristiano Ronaldo. Embora Manuel tudo fizesse ao contrário de Cardozo, era ele a sua inspiração para marcar golos. O Cristiano era a sua inspiração na dedicação.

Relembrava as palavras do avô sempre que ía para um jogo, e esforçava-se ainda mais por isso. O avô tinha partido havia 1 ano. A mãe nunca lhe tinha dito porquê, mas ele sabia. Sabia que o coração tinha falhado. Reconhecia no avô um cansaço crescente nos seus últimos tempos de vida. Tinha sido em casa dos avós que tinha crescido. A maior parte dos valores que lhe tinham passado, tinha sido em casa dos avós. Era o avô que o acompanhava aos treinos, até à data da sua partida. Aliás, na véspera da sua morte fora ele que o acompanhara. Tinha falecido a uma sexta-feira, num dia que Manuel nunca mais iria esquecer pela tristeza que lhe trazia. Mesmo assim, no dia a seguir, foi jogar, como o Cristiano Ronaldo tinha feito no dia em que o seu pai morreu. Marcou 4 golos e tinha sido eleito o melhor jogador em campo. "O meu avô deve estar orgulhoso", era o que Manuel pensava. 

Tinha 2 irmãs que iam sempre ver os jogos dele, juntamente com os pais. A mãe chorava a cada golo e o pai só esperava que um dia algum olheiro reparasse no Manuel, o seu prodígio. Ao Sábado o dia era reservado para o Manuel e a família ía para todo o lado que ele fosse. Tinha uma claque feminina muito grande, mas Manuel não queria saber de namoros. Só tinha tempo para estudar e para o futebol. A mãe sempre lhe dissera que o futebol estava dependente da escola, e por isso ele era o melhor aluno da turma. 

Por isso lhe chamavam mágico. Porque Manuel sempre fora buscar forças às fraquezas! Queria ser sempre melhor. A família era para ele, sem dúvida, o seu pilar. A união da família dava-lhe a força para ser o jogador que era, o mágico.

 Beijinhos

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