março 20, 2016

Olhos de Anjo




Estava só. Estava sempre só. O menino com os olhos mais doces e cheios de paz do mundo não arranjava amor. Procurava, procurava, e não encontrava.

A sua vida não tinha sido fácil, mas ele não era de baixar os braços! Isso é que não! Toda a vida dele tinha sido uma luta. Isso tornava-o mais forte. A cada vez que tropeçava em alguma coisa, fazia questão de se levantar mais forte. O pai partira havia muito tempo. A mãe, amargurada pelas contrariedades da vida, não conseguia dar atenção a nada. Chorava todo o dia, em busca de algo que lhe desse a esperança de que a vida fosse um dia mais fácil. O menino com olhos de anjo não compreendia como a vida dela se tornara em algo que não valesse a pena viver.

Era o irmão mais velho de três. Os dois mais novos estudavam. Era o menino com olhos de anjo que lhes pagava os estudos, com o dinheiro que fazia com o seu trabalho de 10 horas por dia. Ele tinha deixado de estudar quando o pai partira. Ele não se importava com isso. Sentia que fazia o melhor pelos irmãos, e isso bastava. Quando chegava a casa procurava sempre inteirar-se de como tinha corrido o dia dos irmãos. Tinha assumido o papel do pai, embora o menino com olhos de anjo não se tivesse apercebido disso.

Ao fim do dia saía de casa em busca do que faltava no seu lar: amor. O menino com olhos de anjo vagueava pelas ruas, sozinho. Não tinha pai, a mãe só chorava e ele remexia na vida à procura de um amor que não encontrava. Já estava resignado. Não encontraria para si. Mas tinha obrigação de encontrar para os irmãos. Não podia permitir que a vida dos irmãos fosse uma vida sem amor. Ele sabia que só com amor se leva a vida para frente.

Passaram-se anos...chegou a ir a Espanha...não importava se o amor viesse noutra língua. Amor é sempre amor. Em Portugal ou na China! Apesar dos seus esforços, o amor que ele queria mostrar aos irmãos, nunca apareceu.

Um dia, cansado, cheio de fome, parou num cafézinho lá do bairro para comer. Comeu um bitoque, o seu prato favorito. E qual não foi o seu espanto quando dentro do prato encontrara o que tinha procurado toda a vida: o amor!

Porque os anjos existem, e para eles há sempre amor.

Beijinhos

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