abril 14, 2016

A minha vida.

O AVC foi um episódio mau na minha vida. Ninguém no seu perfeito juízo poderá dizer que foi bom. Não é bom aos 19 anos e não será bom aos 91. 
Uma pessoa ver-se incapacitada numa cama de hospital nunca será bom.

Eu tive o AVC aos 19 anos e, apesar de toda a negligência médica envolvida, recuperei praticamente tudo. Acima de tudo recuperei a minha vida e a minha liberdade. 
É este recuperar da minha vida envolveu muitas outras coisas. Por exemplo, deixei a terapia ao fim de 2 anos, com muita coisa por recuperar. Mas consegui voltar a estudar e a sair à noite com os meus amigos. Portanto, a meu ver, só trouxe benefícios.

Mas...trouxe uma implicação que não ponderei na altura. Tinha 19 anos. Era muito nova. Tão nova que estas coisas não deviam acontecer. Mas acontecem. E se soubessem a quantidade de crianças que se encontram num serviço de fisioterapia pelo mesmo motivo que eu lá andei, repensavam toda a vossa vida!

A implicação que não ponderei foi que não seria capaz de fazer com as minhas filhas o que as pessoas ditas normais conseguem. Não consigo correr. Não consigo andar de bicicleta. Não consigo nadar. Não consigo descascar batatas (ou maçãs, ou pêras, ou mangas, ou cenouras...). 
Isto eram coisas que iria aprender a fazer outra vez caso continuasse na fisioterapia e na terapia ocupacional.

Na altura pensei que de nada me servia ser capaz daquilo tudo se a minha mente fosse fechada para novas oportunidades de aprendizagem. Queria fazer o meu curso, queria estudar Psicologia, queria fazer a minha vida e reconquistar a minha liberdade. E estudei. E fiz o meu curso. Com um orgulho secreto em mim. Achavam que eu nunca mais ia conseguir ler um livro. Pois...consegui ler muitos...e isso para mim e para a minha auto-estima foi tudo. O ano passado entrei na Faculdade de Direito. Agora é só arranjar um bocadinho de tempo e lá vou eu! 

Claro que há um preço a pagar. É esse preço é alto. Para mim, que sou mãe a tempo inteiro...
Quanto à fruta que não consigo descascar, há sempre os boiões. Quanto às cenouras que não consigo descascar, há sempre pacotes de cenouras já descascadas. Agora o que faço quanto ao não conseguir correr ou nadar? Para as minhas filhas tinha sido mais benéfico se prescindisse dos estudos e da "vida  normal" e tivesse aprendido a fazer tudo aquilo que não aprendi ao ter saído da terapia!

A vida é assim. Cheia de escolhas. E se optamos por um caminho não podemos voltar para trás!

Beijinhos 

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