abril 08, 2016

Rita, a trapezista.

Rita queria ser trapezista. 

Todos os Natais ia com os pais ao circo, e sabia-o desde muito pequena: o trapézio era o seu encanto. Rita tinha 5 anos, mas sempre fora de ideias muito fixas! Sabia que a mãe não iria gostar muito dessa ideia, pois era a pessoa que mais tinha medo que lhe acontecesse alguma coisa. Sabia que a mãe ia vê-la todas as noites, muito depois da hora de ir para a cama. 

Tinha esperado pacientemente por completar os 4 anos. Idade em que a mãe a deixou ir para a ginástica. Sabia que era preciso muito empenho e dedicação para conseguir um dia ser trapezista! Tinha pedido à mãe para começar a fazer ginástica, e embora a mãe achasse que a Rita era muito nova para isso, cedeu. Começou por ir às aulas uma vez por semana. Era a mais nova da classe, mas era também a mais empenhada. Afinal já sabia o que queria!

Naquele ano, tinha ansiado pelo Natal, mais pelo circo do que pelas prendas. Tinha dormido uma sesta grande para não ter sono, pois o circo era às 21 horas, e essa hora era a hora em que ela ia sempre para a cama. A mãe dava muita importância às rotinas e ela também já começara a aprendê-las e a valorizá-las. É bom ter regras e Rita achava que as regras é que faziam as pessoas boas. 

Insistira com os pais para ir mais cedo para o circo, pois queria ser a primeira a entrar. Era muito atenta, e tinha levado um bloco de notas para tentar desenhar o que a trapezista ia fazendo. Ainda não sabia escrever e isso era um problema para ela. Depois nunca conseguia explicar à professora de ginástica os exercícios que tinha de treinar. Ainda se houvesse uma escola para artistas circenses! Se calhar até havia, mas na vila onde ela vivia não havia nada dessas coisas...

Quando a trapezista entrou, o coraçãozinho de Rito disparou. Até se esqueceu do seu bloco de notas! Que emoção. Queria ser como ela, ou quem sabe, melhor ainda! Queria correr o mundo em cima de um trapézio e fazer dele a sua casa. Queria inspirar outras crianças, que como ela, a ver as habilidades daquela mulher, ficara apaixonada por aquela actividade circense!  Ficava a pensar nas horas de trabalho que aquela senhora devia ter tido para estar ali a dar piruetas no ar! Perguntara ao pai, mas o pai, que não gostava de circo, tinha-lhe respondido que a senhora ganhava dinheiro para estar ali. Rita sabia que haviam coisas mais importantes que o dinheiro, e não podia crer que fosse esse o motivo. Até porque julgava que se não se gostasse do que se fazia, não se podia ter aquela cara de felicidade como a senhora tinha. 

Acabou o número do trapézio e Rita chorou. Como chorava sempre ao relembrar que ainda faltava um ano para ver a trapezista outra vez!

Mal podia esperar pelo circo do próximo ano!

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